Querida filha,
Hoje, depois de tanto tempo, eu tive um espacinho na sua cama de novo. Não para ler os livros que você gostava, porque para isso você já não precisa de mim. Você estava com tosse e eu sentia que deveria te esquentar para que melhorasse.
Você disse que estava bem, que eu podia dormir sossegada. Mas meu coração de mãe não se aquietaria antes do seu pulmão. Você aceitou, mesmo que no começo achasse que a cama era pequena demais para que eu ficasse ali, agora que você cresceu. “Não cabe, mãe, eu não consigo dormir apertada assim”.
Em cinco minutos você se aqueceu e dormiu. E eu tive tempo para relembrar as muitas noites que passei ao seu lado.
Algo mudou? Mudou, mudou muita coisa.
Antes você era pequena, e por muitos anos eu te enxerguei como uma extensão do meu corpo. Era como se você ainda coubesse na minha barriga, e, ao menor sinal de perigo, eu ainda pudesse te proteger lá.
Agora você já tem a minha altura. Felizmente não é tão indefesa quanto o bebê que eu tinha medo de deixar engasgar, ou que a menina que tinha falta de ar. Eu sei que se eu voltar para a minha cama, você ficará bem até o dia seguinte.
Antes o meu amor por você tinha o gosto de ser tão necessária quanto o ar. Mas agora ele tem cheiro de liberdade e amizade.
Você mudou, eu mudei. Mas meu amor por você continua aumentando a cada nova fase que vivemos juntas