O quadro O Grito é uma das obras da pintura mais conhecidas do fim do século 19. Sua primeira versão foi feita em 1893 pelo artista norueguês Edvard Munch, que utilizou tinta a óleo, giz pastel e têmpera sobre cartão na sua criação.
As obras de Munch são classificadas como precursoras do expressionismo, um movimento artístico importante do início do século 20, que teve repercussão mundial (inclusive aqui no Brasil, com o modernismo). No quadro O Grito vemos como os traços e as cores são usados pelo artista para retratar a realidade com pessimismo, que é uma das características da visão de mundo vigente na arte daquela época.
Mas por que o quadro O Grito ficou tão conhecido?
Existem muitos motivos que fazem com que uma obra de arte fique conhecida: domínio da técnica pelo artista, significado histórico daquela peça, entre muitos outros. No caso de O Grito, que é considerado a obra-prima de Edvard Munch, além de preencher todos esses requisitos, há uma grande identificação do público com as emoções geradas pelo quadro.
Você consegue perceber a angústia e o sofrimento que o artista transmite com sua tela? Infelizmente esses sentimentos faziam parte da vida de Munch, que se isolou por anos, como veremos em seguida.
Além disso, a obra é considerada a primeira produção totalmente expressionista de Munch, e teve grande influência no surgimento do movimento alguns anos depois.
O artista
Edvard Munch nasceu em 1863 na Noruega, num pequeno vilarejo ao norte da capital, Oslo. Sua infância foi marcada pela triste perda da mãe, por tuberculose, aos cinco anos. Alguns anos depois, sua irmã Sophie morreu da mesma doença, deixando o menino aos cuidados do pai, que era um militar e cristão fervoroso. Entretanto, o homem era também portador de uma doença mental, o que certamente influenciou na formação da personalidade do filho.
Durante sua infância, Munch foi uma criança asmática, retraída, introspectiva. Guiado pelo pai, matriculou-se no curso de engenharia em 1879. Mas um ano depois decidiu mudar de carreira. Foi então que se inscreveu na Escola Real de Artes e Ofícios de Christiania (antiga Oslo), sob os protestos do pai.
As primeiras produções do artistas foram baseadas nos trabalhos de Paul Gaughin e Vincent Van Gogh. Aliás, Munch já tinha alguns familiares reconhecidos no mundo da arte e da educação, como o historiador Peter Munch e o pintor Jacob Munch.
Durante as últimas décadas do século 19, Munch começou a explorar em seus trabalhos as próprias emoções, numa tendência contrária ao movimento naturalista que estava em voga, e que retratava objetos, pessoas e lugares a partir do ponto de vista do que era observado (e não sentido).
Em 1889 Munch deixou a Noruega e morou em Paris e Berlim, onde desenvolveu boa parte de seu trabalho, ganhou reconhecimento e influenciou outros artistas. Em 1909, tomado por um sentimento de solidão, voltou ao seu país de origem, vivendo em reclusão por 30 anos, até sua morte em 1944.
Significado do quadro O Grito
No quadro O Grito podemos ver alguns elementos: a figura principal, com expressão de pavor; pessoas ao fundo; uma ponte com linhas retas; o céu; o lago e os barcos.
Figura principal
Vemos uma pessoa em primeiro plano, que olha para o espectador com expressão de pânico, terror. Possivelmente ela retrata os sentimentos do próprio artista, que teve uma vida emocional bastante conturbada. A figura foi pintada com traços arredondados, como se estivesse se desfazendo. Muitas pessoas em estado depressivo relatam esse sentimento: como se a vida estivesse derretendo ao seu redor.
A ponte e as figuras ao fundo
Em contraponto à figura principal, a ponte e as pessoas em segundo plano foram pintadas com traços retos. Eles criam o ponto de fuga do quadro, ao mesmo tempo que possivelmente mostram a visão do artista de que o mundo exterior, racional, é o oposto de suas emoções interiores.
O céu
As cores intensas do céu – o laranja, o amarelo e o vermelho – criam no quadro a sensação de urgência. É como se os estímulos exteriores fossem recebidos pela figura em pânico com muita intensidade, exasperando sua sensação de dor emocional.
O lago
Por fim pode-se notar um lago com barcos e um povoado ao fundo. Eles remetem às vilas norueguesas à beira mar, que são o ambiente de nascimento e desenvolvimento do artista.
As várias versões de “O Grito”
Muitas pessoas não sabem, mas Edvard Munch pintou diversas versões desse mesmo quadro. A primeira delas é a mais conhecida, produzida em 1893.
Nesse mesmo ano, o artista pintou a segunda versão, com lápis de cor. Devido ao material utilizado, as cores são mais apagadas em relação ao primeiro quadro, pintado com tinta a óleo.
Dois anos depois, em 1895, Edvard Munch pintou a terceira versão do quadro O Grito, com pastel sobre cartão. É essa quem apresenta as cores mais vivas, onde se destacam o laranja, o amarelo e o azul royal.
Já a quarta versão foi a única feita no século 20, em 1910. Acredita-se que Munch a tenha criado depois do primeiro quadro, como uma réplica. Nessa pintura, a figura na ponte não tem os olhos demarcados, parecendo um fantasma.
Compare abaixo as diferenças entre as versões:
Onde está o quadro O Grito?
A primeira e a segunda versão do quadro O Grito estão atualmente na Galeria Nacional de Oslo. Já a terceira pertence a um colecionador particular norte-americano, que a adquiriu num leilão, em 2002, pelo valor de 119,9 milhões de dólares.
A quarta versão foi roubada do Munch Museum, junto com outra obra do artista, em 2004. Aliás, já havia ocorrido o roubo de uma das versões anteriores, pela qual foi pedido resgate. O valor não foi pago, mas mesmo assim a obra foi encontrada anos mais tarde de forma intacta.
No caso desta última versão do quadro O Grito, no entanto, não foi requerido valor algum para sua recuperação. Infelizmente ela foi encontrada em 2006 com marcas de umidade e queimadura, que inviabilizaram a exposição da peça.
Outra obras de Edvard Much
Na maior parte dos quadros de Edvard Much a temática da dor e do sofrimento é constante. Um de seus quadros mais conhecidos é “Love and Pain” (Amor e Dor), que teve várias interpretações. Uma delas remete inclusive ao mundo dos vampiros, tanto que a tela foi rebatizada com o nome de “Vampire“. É como se a força vital do homem fosse drenada pela mulher na qual repousa a cabeça (não seria isso o que acontece também nos amores não correspondidos?).
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