Querida amiga ou amigo,
Existem fases da vida em que, se houvesse um buraco à nossa frente para escondermos a cabeça, assim nós faríamos. Tempos de doença, de poucos amores, de falta de grana… Tempos em que precisamos reunir forças para levantar da cama. Quem tem filho sabe que, muitas vezes, só levantamos por eles: para colocar o café na mesa, alimentá-los, levarmos à escola, fazermos um carinho em suas cabeças. Torcemos para que eles demorem para descobrir o que são as grandes preocupações da vida, e que curtam ao máximo a doce infância, ou a empolgada adolescência.
Nessas horas costumo me lembrar de um sábio conselho da minha mãe, que passo a repetir diariamente para mim mesma: “não há bem que sempre dure. Nem mal que nunca acabe”. E depois de mais de 40 anos de vida, eu já descobri que ela tinha razão. As épocas maravilhosas, em que tudo dá certo, são varridas para o passado: não há como escapar disso. É como a virada de tempo naquele dia quente de verão: de repente vem a tempestade, que carrega o calor para longe. Se fosse só o calor estava bom, mas às vezes o tufão leva o telhado da casa. Então nos sentimos deixados ao vento, sem abrigo, com o coração partido.
Nesses momentos talvez o único carinho que você receba seja de você mesmo. Por isso, não espere que ninguém entenda o que segue na sua alma, por melhores que sejam as intenções de quem te rodeia. E não demore para se dar um abraço. Pode parecer loucura, mas se dar colo é algo muito útil no meio da tristeza. Trate-se com o amor que você oferece aos seus filhos. Com a candura que você destina aos seus pais. “Isso também vai passar”, repita a si mesmo quantas vezes forem necessárias, até que você acredite em suas palavras.
Então olhe para a natureza: o inverno não dura para sempre – um dia as flores da primavera chegam. A noite mais escura não resiste ao raiar do dia. A semente que está a germinar uma hora brota. Mas imagino que, antes disso, lá dentro da casca, ela se sinta apertada na escuridão. Se a natureza é mutável, por lógica, por que também não seriam as dores que enfrentamos na vida?
Aproveite o seu inverno para descobrir que, mesmo sem luz, você ainda vive. Aproveite para transformar dor em força, auto-piedade em humildade, para ser usada quando o sol lhe voltar a brilhar. Será que, se tudo desse sempre certo, conseguiríamos compreender aqueles que falharam? Teríamos um olhar atencioso para aqueles que sofrem?
Um dia a sua tempestade também passará. Eu sei que parece um longo caminho até lá, mas será tão breve quanto precisa ser. Porque nenhum Pai permite que o desafio seja maior do que o que o filho pode carregar.
Por fim, agradeça tudo aquilo que ainda há de bom (porque sempre há). Apegue-se a isso, e não à parte que falta. E tenha paciência, porque o tempo é o senhor de todas as curas.