Todo mundo fala dos dias em que os filhos crescidinhos começam a ficar de mau humor. No meio do jantar, depois de você perguntar algo aparentemente inofensivo, vem uma resposta atravessada que te faz ficar com os cabelos em pé. Onde foi que esse menino (ou essa menina) aprendeu a ser mal educado assim? “Comigo é que não foi”, você pensa.
Se você é mãe ou pai de um (pré) adolescente, sabe que momentos assim são comuns – e haja paciência para lidar com eles. Mas vamos combinar que nem sempre você está no seu estado mais paciente de ser? Vamos combinar que tem dias em que aquela agressividade gratuita te tira dos eixos, e ao invés de levar numa boa, você responde no mesmo tom ou em um pior?
Sim, mãe e pai de adolescente também têm dias de fúria, e isso deveria estar descrito no manual. Qual manual? Aquele que não recebemos quando o bebê nasce, mas que desejamos ter recebido no dia em que esse serzinho indefeso começou a fazer parte do seu mundo. Aquele que mostraria que dúvidas, alegrias, tristezas e momentos de raiva fazem parte do pacote, tirando o peso da culpa por ter elevado a voz quando você poderia simplesmente ter compreendido e deixado passar.
Posso colocar alguns complicadores nessa equação? Talvez no seu dia de fúria o cachorro tenha estragado a quinta caminha que você comprou para ele – e você tenha gritado pela casa que agora ele passa a dormir no chão. Ou que ele tenha comido cocô só para chamar sua atenção. Ou que tenham batido no seu carro no estacionamento do prédio sem deixar um bilhetinho educado de “ops, foi mal, mas pode me chamar para resolvermos”.
Sim, somos seres humanos que interagem em vários níveis: com o marido/esposa, com mãe/pai, irmãos, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, cachorro, gato, papagaio… Então é claro que não estamos no nosso oásis de compreensão e disposição para a paz mundial todos os dias.
O mais engraçado é que, quanto mais nossos filhos crescem, também cresce essa bolha de exposição e de interações a que eles estão sujeitos diariamente. Por isso aquele comentário inofensivo na hora do almoço, somado à efervescência de hormônios da idade e à briga com o professor, possa resultar no tom que te machucou mais cedo.
Talvez se pensarmos em todos os desafios do nosso dia, e nos lembrarmos que nossos filhos passam a ter dificuldades cada vez maiores para lidar, isso ajude a dissipar a raiva, e a culminar no abraço final que cura tudo.