A mãe da minha infância, ou da minha adolescência, não é a mãe que tenho hoje. Você já percebeu como a visão que temos da própria mãe muda tanto ao longo do tempo? Eu acredito que, conforme ficamos mais velhas, a imagem das nossas mães vai aos poucos perdendo as “capas” com que a recobrimos, para se tornar mais real.
No início, achamos que são super-heroínas. Depois, que são super-vilãs. Até que, quando também nos tornamos mães, descobrimos que são mulheres de carne e osso. São pessoas com virtudes, defeitos, medos, alegrias – e justamente por isso são tão merecedoras do nosso amor. Porque apesar de não terem poderes sobrenaturais, elas fizerem o extraordinário por seus filhos.
A minha mãe, como eu acredito que também a sua, foi:
- A mãe que fazia os medos se afastarem para o sono chegar.
- A mãe que curava instantaneamente todos os machucados do corpo com um curativo e um carinho.
- A mãe que curava os machucados da alma com colo e com um “isso também vai passar, filha”.
- A mãe que indicou os buracos do caminho (e que me deixou cair em alguns para que eu aprendesse por conta própria).
- A mãe que absorveu sozinha a carga de alguns sofrimentos com um sorriso no rosto, para que os filhos não precisassem dividir isso com ela.
- A mãe que passou a mão na cabeça. E também a mãe que não passou, quando sabia que as coisas só melhorariam se o filho levantasse e lutasse.
Parece que passamos a entender tanto nossas mães, que a partir de um ponto os papéis se invertem. Somos nós a fazer os medos dela irem embora, a curar as feridas, a indicar as pedras, a não deixar que nossos sofrimentos transpareçam, para que ela não sofra. E aí, para ela, começa o aprendizado de saber aceitar, ao invés de só dar.
É a roda da vida. Cuja beleza só aumenta conforme aprendemos a girar junto com ela.